Quando o assunto é envolvimento emocional ou relacionamentos, muita gente sente um arrepio só de pensar a respeito.
Uma hora ou outra, a maioria das pessoas pensa em estar ao lado de alguém, curtir momentos a dois e fazer programas de casal, mas a verdade é qu,e para uma parte dessas pessoas, esses pensamentos acabam se tornando uma grande ferida aberta e dolorida. O sofrimento pelos relacionamentos malsucedidos ou o “azar” de não se relacionar com alguém legal, acabam por gerar angústia e uma sensação de incompletude, mas afinal, o que acontece com as pessoas? Por que algumas encontram relacionamentos rapidamente e outras não? Por que algumas pessoas possuem tanto receio em se envolver, em estar com alguém e outras simplesmente se entregam?
Este assunto, frequentemente, costuma ser tratado e aceito como sorte ou mesmo destino, mas será que precisamos aceitar como algo imposto? Onde mora essa diferença?
O grande vilão nessa diferença mora dentro de nós mesmos, pois, se você acredita que não tem sorte, que tem algum problema ou que ninguém vai querer ser seu par, então realmente é assim que vai acontecer, já que será assim que você irá se comportar.
Onde está esse vilão? Ele está neste acreditar, está na maneira como você se vê e nas crenças que possui a respeito de si mesmo.
Mas como assim?
Vamos voltar no tempo para compreender, buscar suas origens, educação e evolução, sua autoestima e a autovalorização. A maneira como enxerga a si mesmo vai definir muitas situações em sua vida, entre elas, os seus relacionamentos. Todo desenvolvimento humano passa por dependência física e emocional e, nessas etapas iniciais, a formação de suas crenças e individualidade, o que te faz olhar o mundo com maior ou menor segurança, gerando, no futuro, maior independência, seja ela física ou emocional.
A leitura a respeito de si mesmo, seus aprendizados e desafios, te torna mais leve nas atitudes e nas relações, está ligado, também, ao amor com que se trata e aceita ser tratado. Em resumo, o sentimento de “merecedor” do afeto, do respeito e dos reconhecimentos. Indo mais além, quando você possui esta independência afetiva, você realmente não espera nada do outro, você se basta com seu autorreconhecimento e o valor do outro apenas agrega, mas não precisa suprir, entende?
A ausência do sentimento de amor próprio pode ser o início de diversos problemas, entre eles, uma reação muito comum, a sensação de “algo faltando”, como se estivesse incompleto, sentindo a carência afetiva e a necessidade do outro para autoafirmação.
E como isso afeta as relações? De todas as maneiras, começamos pelo fato atração, pois quem possui essa dependência não atrai ou deseja, ela busca e precisa.
Nós atraímos para perto pessoas que estão na mesma sinergia que nós. Vou fazer uma analogia para ficar mais fácil a compreensão, vamos pensar no envolvimento de duas pessoas como sendo o deslizar de superfícies emocionais. Então, as superfícies bem lisas, com o deslizamento fluído, são relações saudáveis e as relações não saudáveis, com dependências afetivas, com declives e aclives, sendo uma superfície irregular e ondulada, ou seja, sem deslizamento fluído.
As superfícies regulares apenas ficam bem acomodadas em outras superfícies regulares, já as irregulares possuem a sensação de preenchimento e encaixe com outras superfícies irregulares também, o que geraria uma falsa sensação de preenchimento temporário, mas não ocorreria o deslize, que podemos associar ao seguir com a vida sem travas.
E a que lugar eu quero chegar com essa analogia toda?
Os relacionamentos afetivos não funcionam como preenchimentos, cada pessoa somente se preenche de si mesma, já que esta ideia de incompletude pela falta outro não é real, você por si só é completo por natureza. A percepção de incompletude nasce da insegurança, da autoimagem negativa, como se você fosse estranha aos outros de alguma maneira. Portanto, relacionamento é o andar lado a lado de duas pessoas inteiras e saudáveis, seguindo suas vidas, de acordo com seus desejos e objetivos, com o prazer da parceria.
“Metade da laranja”, “tampa da panela”, essas expressões não são sinônimos de relacionamentos saudáveis. A sensação de incompletude pode atrapalhar o relacionar-se ou levar a relacionamentos doentios, como os relacionamentos tóxicos e abusivos. Essas relações acabam por ferir psicologicamente e até fisicamente o ser humano. São relações nas quais existe o desmerecimento, o abuso, maus tratos e agressões por parte de um dos dois. E, em alguns casos, chega a se tornar perigoso levando ao risco de vida.
Muitos não entendem o motivo pelo qual as pessoas se mantém em relações como essas, mas a verdade é que os ataques, acompanhados da sensação de incompletude e de insegurança, acabam fragilizando tanto o refém, que este fica na relação por carência, baixa autoestima e até medo de não ser amado por mais ninguém, ou seja, forte dependência afetiva, alimentada pelos ataques do agressor, quando não ameaçada de morte.
O agressor nem sempre é percebido como perigoso, porém na intimidade do casal age de maneira a diminuir, ofender, prender o parceiro, ou seja, um caso de relacionamento tóxico. Quando na relação acontece também as agressões físicas e, muitas vezes, fatais, o chamamos de relacionamentos abusivos.
O número de pessoas mortas pelo parceiro todos os anos ou que buscam o suicídio pela angústia excessiva, é enorme e esse é um assunto muito preocupante. Pessoas sofrem caladas, muitas vezes sentindo-se merecedoras do sofrimento e do castigo. Nesses casos, o quanto antes a pessoa compreender e buscar ajuda de amigos, familiares e profissionais, melhor será o resgate da saúde e o distanciamento do agressor.
Como saber se está em uma relação tóxica?
Se, de alguma forma, perceber a ofensa, a rejeição, sentir-se minimizada ou fragilizada na relação ou consigo mesmo, devido a maneira como é tratado e esse quadro for frequente, estamos falando de uma relação doentia, tóxica.
Para alcançar a saúde se distanciando de relações doentias e encontrando o bem-estar nos relacionamentos, o primeiro passo é se conhecer melhor, entender suas fraquezas, medos, valores e leituras a respeito de si mesmo. Afinal, como você se vê? Você gosta do que vê em você como ser humano? Se não gosta, ninguém vai gostar, se não valorizar, ninguém vai valorizar.
A verdade maior é que para se ter um bom relacionamento, primeiro você precisa ter um excelente relacionamento consigo mesmo e se você não sabe como alcançar esta etapa, um profissional pode te ajudar muito. Saiba que você não está sozinho nesta realidade.
Um relacionamento saudável nasce de uma pessoa saudável, então, olhe para si, valorize-se e cuide de você mesmo antes de pensar em cuidar de alguém.
Eu também sempre falo sobre os 4 “As” do relacionamento saudável, ou seja, os 4 pontos de grande importância quando o assunto é o envolvimento afetivo, pois é necessário estar preparado.
Se você já cumpriu toda a primeira etapa de se relacionar consigo mesmo e está feliz com o resultado, talvez seja a hora de praticar outros passos para estar na companhia do amor desejado. Isso mesmo, desejado, porque ninguém precisa de alguém para ser feliz, primeiro somos felizes sozinhos, depois encontramos alguém feliz e saudável para sermos felizes juntos. É aqui iniciamos o treinamento do relacionamento saudável movimentando o primeiro A dos 4.
- ABERTURA: Para alcançar um relacionamento saudável, é necessário permitir que as pessoas se aproximem, se permitir conhecer, sem expectativas, pessoas novas, fazer amizades e deixar que os outros te vejam como verdadeiramente é, sem receios ou resistências. Assim, estará atraindo para si oportunidades de encontrar uma pessoa especial. Permitir que as pessoas se aproximem parece simples, mas nem sempre é fácil, pois não é uma “caça” e sim uma permissão, para essa compreensão é muito importante o amor próprio;
- AMOR PRÓPRIO: Como já disse anteriormente, precisamos gostar de nós mesmos e sempre resgatar o nosso autovalor em uma relação. Somente me farão o que eu permitir e, se você tem consciência disso, mais clara e tranquila ficará a aproximação dos outros e mais natural o envolvimento acontecerá;
- APRENDIZADO: Aprender sempre e em todas as relações. Antes de encontrarmos alguém para, possivelmente, construirmos bons momentos, passaremos por outras relações, nas quais muitas situações devem ser entendidas e aprendidas, sobre você mesmo e sobre o outro, para um futuro relacionamento mais saudável. Viver em casal necessita aprender a aceitar e a respeitar os desejos do outro como a si mesmo e isso requer treinamento e adequação;
- AUTONOMIA: Entender que viver uma relação não é anular-se ou abandonar seus próprios objetivos, mas sim buscar os objetivos individuais, mantendo-se lado a lado, respeitando e apoiando. Ter autonomia para ser você mesmo em qualquer situação ou momento, tomar decisões em conjunto ou ter objetivos em comum é natural, mas nunca abrir mão de ser você mesmo em função do outro.
Esses são os 4 passos importantes de uma relação saudável e, além de serem valiosos para você, são também interessantes e, eu diria, até afrodisíacos para o outro. Afinal quem não gosta de estar próximo de pessoas felizes, realizadas e autoconfiantes? Essas pessoas costumam ter seu brilho natural atraente a todos e admirável e quer saber o motivo? Porque se amam e seguem seu caminho escolhido e traçado pelos próprios atos. Assumir-se você e caminhar em direção aos seus desejos sendo acompanhado de pessoas amadas faz cada indivíduo único e feliz.
Seja feliz, acima de tudo, por quem você é e orgulhoso pelos passos que constrói em sua vida, esse é o princípio de todo o sucesso, incluindo o bem me quer.